sexta-feira, 11 de julho de 2008

ATUAÇÃO DO MÉDICO DE PSF

DIRETRIZES PARA ATUAÇÃO DO MÉDICO GENERALISTA
NO PAIDÉIA SAÚDE DA FAMÍLIA DE CAMPINAS

Maria do Carmo Cabral Carpintéro

Este documento tem por objetivo subsidiar as discussões no SUS Campinas para a construção do perfil do médico generalista no modelo Paidéia de Saúde da Família.

Com a implantação do Programa de Saúde da Família pelo Ministério da Saúde, desde 1995 passa a haver em todo o país inicialmente com maior ênfase no Norte e Nordeste, uma grande procura por este profissional. As Universidades até então, vinham formando médicos voltados para especialização e supervalorizando a clínica privada e liberal. A mudança nessa formação torna-se necessária e vários setores voltam os olhos para este novo profissional que resgatava muito do ideário da Reforma Sanitária como o vínculo, a responsabilização, a atuação no território, e o uso da epidemiologia.

Em 2001 implanta-se em Campinas o Paidéia com a missão de adequar o Saúde da Família a uma cidade com características metropolitanas e com uma rede de assistência a saúde muito mais complexa que a grande maioria dos locais onde o PSF estava instalado.

Este foi um desafio para todo o coletivo da saúde, pois tratava-se de agregar as diretrizes do PSF à realidade de uma rede que contava com grande número de "especialistas" – pediatras, clínicos e gineco-obstetras e de não destruir conquistas históricas e consolidadas do sistema local.

O Paidéia tinha pontos de semelhança com o PSF tradicional, mas destacava-se pelas diferenças. Ampliava-se a equipe clássica, composta pelo médico generalista, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, dentista e agente comunitário, outros médicos que atuariam apoiando o generalista e às vezes a mais de uma equipe. Além disso, trazia para a equipe o desafio da clínica ampliada, a diretriz de construção de projetos terapêuticos singulares com a participação da pessoa ou família nesta definição e a ênfase no trabalho multiprofissional onde a responsabilidade pela saúde das famílias e do território era de todos e não centrada em um único profissional.

Por estas diferenças e pela experiência destes 2 anos é imperioso a discussão sobre o profissional médico generalista neste modelo. Trata-se de fazer ciência em cima da prática e contribuirmos para esta discussão em todo o país.

Por fim, reforçamos que ele é mais um elemento da equipe local de referência e ao definirmos algumas diretrizes, espera-se que estas permeiem a prática e a postura de todos os profissionais do Paidéia.

O que a instituição espera do médico generalista:

* Que compreenda os indivíduos como sujeitos de seus processos no andar a vida, sendo assim co-responsáveis nos processos de promoção, manutenção e recuperação de sua saúde; que respeite os interesses, valores e diferenças culturais;
* Que se responsabilize, com a equipe toda, pelas famílias a ele adscrita;
* Que crie vínculo com as famílias/pessoas e que este implique na construção da autonomia dos sujeitos/grupos, bem como na possibilidade de construir redes sociais
* Que se vincule também com os profissionais de trabalho com que lida no cotidiano, atuando de forma complementar, solidária e ética.
* Que conheça o território ao qual está vinculada sua equipe, conheça as famílias que ali residem, os recursos que a comunidade possui, identificando com ela os principais problemas/áreas de risco a serem enfrentados e participe do desenvolvimento de Projetos de Intervenção que minimizem ou solucionem estes problemas, articulando outros setores que possam também estar implicados (AR, Cultura, Educação, Assistência Social, outros serviços de saúde, ONGs, grupos religiosos,...)articulando assim a assistência com a prevenção e promoção da saúde.
* Que desenvolva ações assistenciais às pessoas durante todo o ciclo de vida (crianças, adolescentes, adultos, idosos), acolhendo-as, definindo, com a equipe e o usuário implicado, o Projeto Terapêutico que melhor se adapte à situação; que envolva os cuidadores sempre que possível; que vá à casa das pessoas, sempre que necessitem; que busque recursos complementares, sempre que necessário (discussão de caso, referenciamento para outro serviço...); que realize procedimentos médicos simples; que faça atendimentos de urgência/emergência sempre que necessário;
* Que valorize a subjetividade de cada sujeito e busque compreender o indivíduo e suas relações, bem como compreenda a família com a sua singularidade na produção de inter-subjetividades
* Que desenvolva ações coletivas dentro e fora da unidade, conforme prioridades estabelecidas na equipe; que participe da formação/execução de atividades grupais educativas, conforme plano da equipe; que compreenda os grupos como espaços de construção do conhecimento de todos e por todos, construção de autonomia progressiva e espaço de convivência, que estreitando relações, abre perspectivas de ampliação das redes sociais
* Que em todas as ações realizadas haja um enfoque para a promoção de hábitos saudáveis de vida, respeitando-se o direito de escolha das pessoas
* Que participe ativamente da organização do processo de trabalho no cotidiano da equipe/unidade, participando da discriminação de risco, consultas conjuntas, dando retaguarda à enfermagem, administrando a agenda da equipe
* Que use de forma racional a tecnologia disponível para investigação diagnóstica e terapêutica, especialmente os medicamentos; que evite deslocamentos desnecessários dos usuários; que alie outras práticas terapêuticas não medicamentosas, sempre que possível
* Que participe dos processos de capacitação como capacitando e como capacitador, apoiando a formação de outros profissionais
* Que participe ativamente dos espaços de criação coletiva: reuniões da equipe local de referência, apoio matricial, reuniões gerais, mutirões,...
* Que contribua para o bom andamento do Núcleo de Saúde Coletiva, Colegiado Gestor e Conselho Local de Saúde
* Que preencha adequadamente os prontuários familiares, relatando de forma inteligível e legível os dados essenciais em cada situação;

O que o médico generalista precisa saber/fazer para dar conta destas atribuições:

* ter postura acolhedora, responsável, ética;
* desenvolver práticas de trabalho em equipe, de forma complementar, solidária, respeitosa e criativa;
* adotar concepção de saúde que dê conta da complexidade dos processos saúde-doença, levando em conta o sujeito seus valores, suas relações, suas condições objetivas de vida (a moradia, o trabalho ou a falta dele, os hábitos, o "em torno"- urbanização, saneamento, espaços de lazer – a religiosidade, a rede social significativa..) enfim, um determinado espaço territorial e vivencial, sendo influenciado e influenciando nos determinantes de saúde
* conheça e implemente as diretrizes do SUS e do Projeto PAIDEIA de Saúde da Família de Campinas;
* ter conhecimentos básicos de epidemiologia e de Vigilância em Saúde (principais indicadores de saúde; imunização; prevenção da raiva e tétano; investigação de surto;
* ações de controle da dengue; principais doenças infecciosas e suas medidas de controle; creche, asilos, casas de apoio, escolas; conhecimentos básicos sobre relações meio-ambiente (incluindo ambiente de trabalho) e saúde
* conhecer os principais eventos/agravos em todo o ciclo de vida: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; anemias; doenças respiratórias; principais dermatoses; doenças infecciosas mais comuns (parasitoses intestinais, tuberculose, dengue, hanseníase, leptospirose, DST-AIDS...) hipertensão arterial; diabetes; principais doenças ósteo-musculares; sexualidade; concepção/anticoncepção; pré-natal de baixo risco; vulvovaginites mais comuns; climatério; convulsões; uso e abuso de drogas; alcoolismo; manejo dos quadros de ansiedade/depressão, processos de perda; LER/DORT
* conheça, valorize e, preferencialmente desenvolva as atividades do Projeto Corpo em Movimento; conheça e estimule a aquisição de hábitos nutricionais saudáveis
* consiga ter formação ou reflexão sobre as relações familiares e produção de inter-subjetividades
* seja capaz de desenvolver atividades grupais participativas
* tenha iniciativa para buscar novos conhecimentos, acionando redes de ajuda (apoiadores de outros serviços, outros profissionais da equipe, levando o caso à discussão, estudando...)
* tenha conhecimentos básicos de medidas de suporte à vida (situações de emergência) e desenvolva os procedimentos mais comuns (sutura, drenagem de abcesso, ...)
* que conheça e adote o uso racional de medicamentos
* use racionalmente os recursos tecnológicos disponíveis

O que temos disponível para construirmos as condições para tal:

* O próprio trabalho em equipe: a elaboração de PTS; a criação de Projetos de Intervenção; o preparo/execução dos trabalhos educativos; a relação com outras instituições; atuação no NSC;
* O apoio matricial interno ou externo à unidade;
* As capacitações;
* Os protocolos e anti-protocolos
* O acesso à Internet
* Os processos gerenciais do cotidiano (agenda, reuniões, relações da equipe/coordenação da unidade, feed-back dos usuários, CLS, discussões do Colegiado Gestor)
* Os recursos disponíveis na rede que constituem a tecnologia dura em Saúde (lista de medicamentos, retaguarda laboratorial, pré-hospitalar, hospitalar, etc.)

Maria do Carmo Cabral Carpintéro é médica sanitarista e Secretária de Saúde de Campinas

2 comentários:

Anônimo disse...

Porque vocês não colocam as fotos dos cadáveres douradenses, mortos devido a péssima qualidade do sistema de saúde do Tetila/PT?

ZÉLIA CORDEIRO disse...

Parabéns pela iniciativa, é assim que começamos a mostrar o nosso trabalho aos douradenses.São de iniciativas assim que estamos precisando, pois se todos mostrassem o que estão fazendo teríamos tantas pessoas imaginando que nbão fazemos nada. Cada um tem que fazer a sua parte para termos uma sociedade mais consciente. Mais uma vez parabéns!!!
ZÉLIA CORDEIRO