ESPAÇO PARA DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE REALIZADO NA VILA SÃO BRAZ - DOURADOS -MS
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
sábado, 8 de outubro de 2011
Conto – " A Vacina"
(É muito divertido, vale a pena ler)
(...)
– Zé, você precisa ir ao Posto de Saúde do Estado, lá no Bom Retiro, para retirar 500 doses da vacina anotada neste pedido. A partir de amanhã, o Departamento Médico vai aplicá-las nos funcionários.
Antes de zarpar, o Zé passa no banheiro, penteia os cabelos e aplica boa dose de desodorante nas axilas. Todo garrido e lampeiro vai até o nono andar, de onde toma o elevador e parte enlevado para a sua missão... Ele sempre zanzeia nessas paragens por ditames do coração... Segue pela Dom José de Barros, em direção ao Largo do Paissandu. Assobia e gira com maestria no indicador da mão direita sua velha e ensebada pasta de cartolina que, lançada ao ar, é equilibrada no “fura-bolo” da mão esquerda. No Paissandu toma o ônibus com destino ao Bom Retiro.
Chega ao posto de saúde onde inúmeros cartazes coloridos afixados por todas as paredes do antigo casarão amarelo, prendem-lhe os sentidos. Anúncios em letras graúdas sempre tocam a sensibilidade do Zé. Os que agora lê convidam-no a se vacinar contra a paralisia infantil, poliomielite, varíola, meningite, febre amarela e toda corriola de mazelas que ferem fundo o altivo animal chamado homem. Um desses letreiros golpeia fortemente o garoto, pois anuncia: “Vacine-se contra o tétano”, e mostra a figura de um horripilante monstrinho redondo, peludo, com cara de pérfido, fugindo em desespero de uma gota da vacina pronta a submergi-lo. O Zé matuta:
– Caramba, eu vivo me azarando, me estropiando...
Lembra-se de recentes acontecimentos: murro no olho esquerdo ao findar o jogo de domingo na várzea do Itaim; dedão do pé semi-arrancado ao chutar descalço um paralelepípedo na pelada com uma tampinha de cerveja, lá na esquina da padaria. Conclui, então, necessitar da tal anti-titânica.
Dirige-se à recepcionista de plantão:
– Dona, quero me vacinar contra o tétano!
Após um marasmo interrogativo – idade, peso, doenças que teve, vacinas que tomou, alergias... –, com as respostas anotadas num vetusto prontuário, ritual que o Zé reputou bestial perda de tempo para algo tão simples como tomar um copo de água, a senhora pede-lhe que se dirija à sala de aplicações. Resignado com tamanha burocracia, superior às suas forças, vai a passos despreocupados ao local indicado, ali mesmo no andar térreo.
É recebido sem entusiasmo pela gorda enfermeira, mulata de ar severo, doidinha por resolver de bate-pronto o encargo e voltar à revista interrompida com a chegada daquele pirralho magro e ossudo. Sem palavras de boas-vindas, lê carrancuda o prontuário e diz:
– Tire a camisa.
Pudico em expor seu pobre esqueleto diante das demais enfermeiras que permanecem lendo revistas ou fazendo tricô, o Zé sugere:
– Dona, não dá só pra arregaçá a manga?
– Ande logo fedelho que não tenho tempo; tire a camisa.
Tira, mas resmunga por dentro:
– Baita gente complicada... Tô cansado de ver aplicar vacina no ombro com a manga arregaçada.
Pois é, como faz tempo que não se vacina, o Zé julga que a aplicação é feita com aquele tubinho de vidro semelhante a um palito de dente com o qual viu cutucarem há tempos na televisão o ombro de um vacinado; ou à base de revólver de aplicação, gotas, ou qualquer método mais simples.
Sem camisa, arrepia-se feito frango molhado com a lufada de um vento friinho que veio bisbilhotar desde um gélido pátio amortalhado com permanente sombra.
De olhar curioso, atento aos movimentos da enfermeira, o Zé a vê dirigir-se a um armário estranho parecido com uma barrica de metal, abrir a tampa e desentranhar aquilo que mais teme na vida, depois da matemática: seringa de injeção!
– Barbaridade! – grita, retrocedendo um passo. Acho que esse troço não é pra mim, não!!
Inspeciona ao redor e conclui ser ele a única vítima para o abate. Não teve, o azarado Zé, a sorte do afortunado Isaac, lá no Velho Testamento, que foi substituído por um cabrito.
Pálido, mudo, sem forças para reagir, segue atônito o seguro ritual da algoz, que agora abre uma paleolítica geladeira cor branco-cadáver e retira dois frascos de vidro com tampa de borracha, por onde introduz a terrificante agulha da seringa (para o Zé, prego de peroba). Suga lentamente todo líquido do primeiro frasco, que é lançando vazio num macabro e hospitalar cesto de lixo com pedal; esvazia o segundo recipiente e o mantém espetado na ponta da agulha para protegê-la dos males da atmosfera. Vem na direção do moleque com as duas mãos erguidas à altura da cabeça, trazendo numa delas a seringa – punhal – cheia de um pastoso líquido esbranquiçado, e na outra um chumaço de algodão embebido em éter.
Estarrecido, fixos os olhos nos instrumentos de morte, o moleque recua, sendo interceptado pela parede. Pensa fugir, mas a porta e a janela encontram-se atrás da enfermeira, e são alcançáveis apenas passando por cima do cadáver dela. Petrifica-se o Zé. A gorda senhora lança-se resoluta sobre a presa, mantendo agora na mão esquerda a seringa e o algodão, deixando livre a direita que, feito gadanho de ferro, prende o braço do moleque como quem aperta um magro caniço de bambu. Esfrega o éter no ponto da aplicação e o forte odor do líquido asséptico penetra nas narinas do pirralho e põe-lhe tudo a rodar, desbobinando de sua imaginação sangrentas cenas hospitalares: tripas de fora, bisturis, poças de sangue e tudo mais que faz trepidar qualquer garoto com boa saúde, pouco acostumado a coisas tão incômodas como essas.
Surge o inesperado! Caiu! Caiu Babilônia, a grande! O Zé desmaiou de pavor!!! Sim, de pa-vor! O bravo Zé, jamais vencido por moleque algum, e cuja temeridade pensa ser sua maior virtude; aquele que fez desandar de medo o Zarolho e o Zeca Malandro, pequenos marginais temidos pela garotada do bairro; quem, junto com o Aristeu, batera sem dó no Cicatriz, no Peru e no Correia, bando da Rua Marques Leão; que enfrenta tipos com o dobro de sua idade e tamanho; que na saída da velha Escola Estadual Maria José acertara contas com grandalhões que malharam algum amigo seu; enfim, o Zé, tipo do cara que nunca leva desaforo para casa e encarara árduas vicissitudes da vida com fortaleza incomum – exceto a matemática –, jaz ali estatelado no chão qual escória ou peru bêbado na véspera do Natal... E agora, rapaz!?... Quem te viu e quem te vê, não?! Já pensou, velhão, o que diria a turma lá do Bixiga, vendo você assim? Que papelão... Dá até vergonha de revelar que o conheço, meu caro... É o aniquilamento, a desonra! Oh, desditada vida, quanta ignomínia! Quem diria...
Confuso, ao voltar lentamente a si, o Zé ouve lá longe as vozes dos que ao seu lado confabulam:
– Então, doutor, ele vai melhorar?
(...)
Desalinhado, o garoto põe-se
– Meu benzinho, você deve voltar daqui a quinze dias para tomar a segunda dose, viu? Não esqueça, tá!? Senão a primeira aplicação perderá o efeito!
Um suspiro lento, profundo, e um sim com a cabeça é a resposta do Zé: faltam-lhe forças para juntar ânimo de protesto. Apenas, como augúrio inevitável, pressente espessas nuvens de dissabores abarreirarem-se no horizonte das duas próximas semanas. Agradece a triste recomendação e sai. A dor no ombro direito é sinal evidente de que a experimentada enfermeira – escolada desses tipos durões que se desmancham frente uma ridícula agulha – aplicara-lhe a injeção mesmo estatelado no solo.
(...)
Oh, que duas semanas penosas; oh, que quinze dias fatídicos! Cada folhinha destacada do calendário pendurado na parede da cozinha oprime o coração do Zé. É um sentenciado abeirando-se ao dia do paredão. Sua decisão de tomar a segunda dose varia a cada instante de um rotundo e peremptório “não vou nem a pauladas”, até um frouxo e bordejado “acho que vou”. Horas depois está resolvido a não ir, e depois de horas a ir. E assim permanece enredado em desejos contrários, e em contrários desejos está.
Por fim, irrompe o dia marcado. Que paúra! Acordou com um rotundo e monolítico – “Não vou; questão fechada”. Até às dez horas da manhã, mudara de parecer dezoito vezes. Contudo, aproveitando o tempo de almoço, lá foi o Zé ao posto de saúde. Que valentia incomum! Enfrentou o árduo dever com maturidade.
(...)
Ao chegar no casarão amarelo da saúde, sua fértil imaginação o fez sentir-se alvo de chacotas e olhares trocistas das enfermeiras, que pareciam lhe dizer: – “Olhem aí, o valentão chegou!”. Que opróbrio! Com faces abrasadas, quase voltou. Envergonhado do pretérito papelão, dirige-se humilde e servilmente à enfermeira gorda que já o conhecia muito bem:
– Oi, dona enfermeira!
– Como vai, garoto? – a voz dela é maternal.
– Mais ou menos...Tô com medo... A senhora acha que é mesmo pra tomar essa segunda dose?
– Precisa sim, filhote.
O Zé cala-se, respira fundo e dá um tempo. A enfermeira inicia o preparo da seringa, já não mais sob o olhar curioso do moleque, que resolve pôr-se de costas, a fim de contar os buraquinhos da centenária parede do casarão.
Ainda de costas, com tímida voz, novamente interpela:
– Dona, será que... Será que a senhora poderia aplicar a injeção aqui atrás – apontando justamente para aquele setor de carnes fartas também alcunhado de pousadeiras.
– Está bem; abaixe a calça.
Volta-se lentamente para a senhora:
– Sabe, dona enfermeira, se eu pudesse me deitar naquela maca – ruboriza-se com a lembrança do desmaio – acho que não me esborracharia de novo – e sem saber onde por as mãos, desvia o olhar para o assoalho e impede com o bico do tênis a passagem de uma formiga.
A enfermeira ri e lhe aponta a maca. O Zé abaixa a calça e um tiquinho do calção. Deita-se e prende a respiração para evitar o cheiro do éter, emoliente dos seus ossos. Enterra o rosto no travesseiro e se enrijece feito dormente de concreto. A enfermeira vendo músculos tão contraídos e em atitude de defesa e pavorosa expectação, sabe que não será possível fincar-lhe o delicado espeto. Utiliza, então, especial técnica para tais casos: finge introduzir-lhe a agulha cutucando com o dedo a nádega do Zé, que distende-se certo de que tudo acabara, quando então plac!, enterra-lhe a fina haste de aço.
– Ui! – contrai-se novamente.
– Relaxe, relaxe, garoto. Pronto, pronto. Viu só, acabou e não doeu nadinha – a seringa ainda cravada nas carnes vai pela metade da dose.
– Puxa, não desmaiei!... Não tô desmaiado, né, enfermeira?
Nesse momento retira a agulha:
– Não. Você está forte como um touro! Pode levantar.
– Caramba, como diz minha avó, não me desmilingui!
A funcionária se despede e volta à fotonovela.
Ao levantar da maca, o Zé padece ligeira tontura. Torna a sentar-se e respira fundo. Aguarda um momento e ergue-se senhor absoluto dos quatro pontos cardeais, que pode apontá-los sem pestanejar.
Missão cumprida! Batalha vencida! Depositar a derradeira pedra e ultimar a obra iniciada, mais se é árdua, plenifica o espírito de alegria. Viva a vida! O Zé sente-se o herói da batalha do último filme. Agradece as funcionárias com ar de valentão e, expandindo-se seguro de si, pergunta se deveria retornar para uma terceira dose. Informado ser desnecessário – coisa que bem sabia, e como! –, faz cara de resignado e parte.
Famílía em Contos: os Larletos, de Ariovaldo Esteves Roggerio (Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009)
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
sábado, 3 de setembro de 2011
Trabalho e Qualidade de vida II
A qualidade de vida tem se tornado uma condição muito almejada pelo trabalhador, e isso nos mais diversos setores: sejam eles de produção ou de serviço. Ela se traduz na busca por satisfação, saúde, alegria motivação e bem estar. Para desfrutar de boa qualidade de vida é preciso viver de forma equilibrada, procurando ter hábitos saudáveis, adaptando-se para o enfrentamento das pressões e imprevistos da vida, tanto na dimensão do trabalho como no lazer, buscando viver mais conscientemente e em harmonia com o meio ambiente, as pessoas e consigo mesmo.
Por outro lado, quando as condições do trabalho não contribuem para a qualidade de vida, acaba gerando no trabalhador sentimentos de insatisfação, desencadeando uma série de reações como monotonia, fadiga, falta de motivação e estresse, caracterizados por Deliberato (2002) como aspectos psicofisiológicos da interação homem/trabalho.
Neste contexto conclui-se que sendo o ambiente de trabalho uma extensão de nossas vidas, visto que em muitos casos é o local onde o indivíduo passa maior parte do seu tempo, deve este configurar-se num espaço amistoso, motivador, agradável, minimizando ou até eliminando os efeitos nocivos que as atividades de trabalho poderiam gerar.
Fonte da citação:
DELIBERATO, Paulo C. P. Fisioterapia Preventiva – Fundamentos e aplicações. 1ª ed. - Barueri, SP: Editora Manole Ltda, 2002.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Trabalho e Qualidade de vida
Por muito tempo saúde foi caracterizada como ausência de doença formando um conceito muito limitado para uma temática tão abrangente.
Atualmente o termo saúde tem sido abordado de uma forma mais complexa e menos simplista, na concepção de um processo em construção que vislumbra uma relação harmônica entre o indivíduo e o meio, meio este que pode ser o próprio ambiente de trabalho, local onde o trabalhador está inserido e interagindo, influenciando e sofrendo influências.
A presente reflexão propõem repensarmos nosso ambiente de trabalho, enquanto profissionais da saúde, na perspectiva de implementar ações de promoção da saúde com vista a proporcionar qualidade de vida ao trabalhador/cuidador.
É preciso refletir sobre os aspectos que interferem na motivação dos funcionários e propor mecanismos voltados à motivação dos mesmos, de forma que as condições de trabalho não interfiram, más sim colaborem com a redução da vulnerabilidade e riscos à saúde, proporcionando satisfação, motivação, bem estar e alegria.
Uma ferramenta que tem sido muito utilizada em diferentes campos de trabalho, como forma de minimizar os efeitos nocivos da carga de trabalho tem sido a ginástica laboral. Ela consiste, basicamente, na prática de exercícios leves com duração de aproximadamente 15 minutos, realizados durante a jornada de trabalho. Vários autores têm demonstrado por meio de estudos que a referida ferramenta tem apresentado bons resultados, despertando nos trabalhadores o desejo pela prática de atividades físicas, rompendo assim com o sedentarismo tão presente nos dias atuais, e principalmente proporcionando entre os funcionários e colegas de trabalho uma melhor interação.
Conforme (BERGAMASCHI, 2002), entre os efeitos produzidos pela ginástica laboral, estão a redução de dores e dos sintomas de estresse além da percepção de uma melhora significativa no relacionamento entre os trabalhadores e ainda no ambiente familiar.
Deixo aqui como sugestão começarmos a fomentar a possibilidade da aplicação de tal ferramenta em nosso ambiente de trabalho. Acredito que a iniciativa trará benefícios aos servidores e consequente melhoria na qualidade dos serviços prestados.
Em breve postarei novas reflexões sobre o assunto.
Abraços a todos!!!
Fonte da citação:
BERGAMASCHI, Elaine C. Ginastica Laboral: Possíveis implicações para as esferas física, psicológica e social. Atividade Física & Saúde, Rio Claro, v. 7, n. 3 p. 23-29, 2002.
domingo, 28 de agosto de 2011
CONGRESSO DA REDE UNIDA
A Associação Brasileira Rede Unida (ou para os íntimos Rede Unida) reúne projetos, instituições e pessoas interessadas na mudança da formação dos profissionais de saúde e na consolidação de um sistema de saúde equitativo e eficaz com forte participação social. A principal ideia força da Rede Unida é a proposta de parceria entre universidades, serviços de saúde e organizações comunitárias. Não se trata de qualquer parceria: trata-se de uma modalidade de co-gestão do processo de trabalho colaborativo, em que os sócios compartilham poderes, saberes e recursos.
Por ser uma Associação de abrangência Nacional, a Rede Unida prima por estimular a produção de estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informação e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades de promoção da educação e da saúde em todo o País, bem como de proposição de novos modelos sócio produtivos e de sistemas alternativos de produção que fortaleçam o campo da saúde a fim de garantir e ampliar a cidadania, os direitos humanos, a democracia e outros valores universais.
Neste sentido, é tarefa prioritária da Rede Unida reafirmar o processo histórico de luta pela reforma sanitária e democratização da saúde a fim de fortalecer o SUS por meio de mudanças na formação profissional em saúde. Para tanto, é desafio da Rede induzir modelos de educação profissional interdisciplinares, multiprofissionais e que respeitem os princípios do controle social e do SUS. E, assim, promover tessituras entre educação, saúde e sociedade a partir da formação de trabalhadores críticos e reflexivos, capazes de realizar leituras de cenário, identificar problemas e propor soluções no cotidiano de sua prática profissional.
Secretaria Executiva – Rua São Manoel, nº 498 Bairro Santa Cecília - Porto Alegre/RS CEP:90620-110
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